A Quinta de Cima de Oliveira é uma propriedade constituída por uma casa senhorial com capela e por terrenos de cultivo, em Oliveira de Santa Maria, no concelho de Vila Nova de Famalicão.
Na sua configuração atual, a casa terá sido construída em 1769, eventualmente por ampliação ou melhoramento de uma casa existente, sendo contemporânea da capela, que lhe está adossada e que data de 1768.
A capela tem uma fachada de feição rococó, encimada por um brasão de armas religioso e por um campanário com sino. O seu interior possui a nave, com o teto em taipa criando uma abóbada de berço, o presbitério e, lateralmente, a sacristia, já dentro dos limites da casa. Possui, ainda, um coro-alto por cima da porta principal da igreja, com acesso exclusivo desde a habitação, e um retábulo-mor de planta côncava em talha dourada e policromia, também de expressão tardia do Barroco.
A casa tem dois pisos, com alçado principal de desenho simétrico e com uma escada de dois lanços também simétricos, em “L”, que iniciam um de cada lado da fachada, para se juntarem no centro, junto da porta de entrada principal, de acesso a uma grande sala. A casa organiza-se em torno dessa sala, que agrega as funções de receção, estar e refeições, distribuindo os acessos lateralmente para os quartos e para o varandão nas traseiras. Daqui circula-se para outros dois quartos (um deles agora transformado na pequena cozinha e num quarto de banho), para o coro-alto da capela e para uma escada de serviço de acesso ao piso inferior, por onde se acedia ao pátio e à antiga cozinha, originalmente separada da casa. O piso inferior é composto por duas lojas, onde se guardavam alfaias e produtos agrícolas.
As duas construções (casa e capela) caraterizam-se pela utilização do granito nas paredes exteriores e nos seus ornamentos, em algumas paredes interiores com função estrutural, nas guardas da escada e nas colunas de uma varanda nas traseiras, sendo as restantes paredes interiores em tabique. Os elementos construtivos que conformam os pavimentos, a estrutura das coberturas, os forros dos tetos, as portas e as janelas, são em madeira, na sua maioria de castanho.
Genericamente, a casa encontrava-se em bom estado de conservação, necessitando de uma revisão do telhado para impedir a entrada de água das chuvas em alguns locais, que foi degradando os tetos em caixotão. No entanto, a casa não garantia condições mínimas de conforto, principalmente no inverno, porque o soalho e o forro dos tetos apresentavam algumas fendas entre as tábuas que, nos locais de contacto com o exterior, não impediam a indesejável passagem de correntes de ar frio. Já a capela apresentava sinais de maior degradação, principalmente no retábulo e na abóbada de taipa, patologias já detetadas desde 2000, conforme descrito numa das publicações referenciadas ¹.
Nas primeiras visitas à casa, após a realização de uma inspeção sumária e dada a visível qualidade de todos os materiais, da expressão de todos os acabamentos e do seu sereno envelhecimento, ditaram-se as premissas do projeto, de não alterar absolutamente nada do existente, que deveria ser mantido, conservando.
Foi assim, respeitando este princípio, realizado um trabalho de reparações e substituições pontuais, quase cirúrgicas, nas madeiras (soalhos, portas, rodapés, guarnições, tetos). A estrutura dos pavimentos foi reforçada e o soalho consolidado com cunhas para reduzir as oscilações que se sentiam. Os soalhos foram ainda isolados com lã mineral e revestidos com um forro de madeira. Sobre os tetos foi também aplicada lã mineral para contribuir para o isolamento térmico e garantir o conforto desejável.
Evitaram-se, também, intervenções intrusivas nos rebocos, compostos por argamassas “pobres”, que foram apenas repintadas com leite de cal. Para impedir essa intrusão nos rebocos, o traçado das infraestruturas elétricas foi cuidadosamente delineado, passado exclusivamente por baixo dos soalhos de madeira e pelo forro dos tetos, tendo as tomadas sido aplicadas nos pavimentos.
A intervenção passou ainda pela transformação de um compartimento existente fora dos limites do traçado regular da habitação, numa pequena cozinha e num quarto de banho.
Nas traseiras da casa, do lado nascente, exposta para o local onde, em tempos, existiu uma grande cozinha que deveria servir a casa e certamente os trabalhadores da quinta, abre-se um varandão, assim chamado pelos proprietários, que foi fechado, em época desconhecida, com uma parede de tabique. Essa parede, com algumas janelas de guilhotina, em madeira de qualidade inferior e bastante degradadas, cobria parcialmente o conjunto de colunas que suportam o telhado. Tal circunstância ditou a remoção integral da parede de tabique e das janelas, libertando as colunas de granito e recuperando amplitude visual do varandão. Parede que foi substituída por um grande vão de vidro, mantendo o varandão como espaço fechado, porque na realidade este foi, durante muito tempo, um espaço que conseguia albergar um vasto número de peças de mobiliário para usos distintos: duas mesas de refeições, um guarda-louça, vários cadeirões, estantes com livros, uma escrivaninha e um oratório.
O altar-mor, descrito pelo historiador António Martins Vieira¹, foi integralmente restaurado, numa operação que começou por um processo de fixação da folha de ouro e da policromia que se encontrava destacada, tendo-se, depois, procedido à desmontagem de todo o retábulo e ao seu transporte para a oficina/atelier do restaurador, onde se prosseguiu com os restantes tratamentos. Foi inicialmente realizada uma desinfestação, para posterior consolidação do suporte lenhoso, com reforço estrutural de todo o retábulo, que consistiu na revisão das ligações e dos encaixes, no realinhamento de algumas peças e no preenchimento com madeira de fendas, fissuras e lacunas.
Por fim foi feita uma limpeza da policromia e da folha de ouro em toda a superfície do retábulo e aplicada uma massa à base de gesso nas lacunas, posteriormente integrada com pigmentos
Concluída a intervenção em atelier, o retábulo foi montado no seu local de origem. ²
Os trabalhos de reabilitação ainda não estão concluídos, prevendo-se a médio prazo a renovação do piso térreo com a sua transformação num espaço de trabalho e biblioteca, assim como a aplicação de um reboco térmico nas fachadas da casa e da capela.
1 – Vieira, A. M. (2000) As Capelas no Concelho de Vila Nova de Famalicão. C. M. V. N. de Famalicão.
Outras fontes: https://bit.ly/3nhV9d2 e https://bit.ly/381hXr1 em 2020
2 – descrição técnica fornecida pelo responsável do restauro