Arquitectura | architect: Paulo Seco ; colaboração | colaboration: Filipe Lourenço ; Localização | location: Porto . Projecto | project: 2015 ; Imagem | image: © ITS Ivo Tavares Studio

 

Projeto de reabilitação e ampliação de uma habitação num edifício de gaveto, situado num cruzamento da Rua de Anselmo Braancamp.

O edifício, com comércio no rés-do-chão e uma habitação no andar, foi construído em 1910, na mesma altura da abertura da rua, por ampliação de um pequeno edifício de um só piso, de utilização desconhecida.

Na última década, o edifício sofreu alguma degradação na sua cobertura, acelerada no piso superior por ter estado devoluto durante vários anos, tendo sido necessárias obras de reparação para proteger as lojas em funcionamento no rés-do-chão e de onde resultou a demolição integral do interior da habitação.

Com a encomenda do projeto, posteriormente solicitada, foram definidos o programa e a necessidade de aumento de área; daí resultou a ampliação de dois novos volumes, um no piso térreo, para garagem, outro no andar, sobre a construção já existente, para habitação. Estes dois volumes assumem uma expressão autónoma da linguagem do edifício existente, que se caracteriza pela sua maior simplicidade de formas, pela maior dimensão de um dos vãos, pela expressão do novo revestimento, pela cobertura plana e pelo desenho do guarda-corpos.

A diferença plástica entre a nova intervenção e a pré-existência, é entendida como uma condição de projeto, mas, mais do que afirmar essa diferença, pretende-se aglutinar os diferentes componentes, novos e antigos, sobrepondo planos recentes aos existentes, abrindo um vão novo numa parede existente, refazendo as proporções noutro vão, também existente.

No interior, que se encontrava completamente amplo, o programa foi organizado relacionando os compartimentos com os vãos existentes, procurando que os espaços principais tivessem bastante luz natural. Os espaços propostos distribuem-se ao longo de um corredor que atravessa toda a casa, junto à parede cega que confina com o edifício vizinho, ligando as duas entradas da habitação: uma pela rua, outra, de serviço, através do logradouro.

Interiormente, foi criado um grande elemento de composição formal, totalmente revestido com madeira de bétula, composto por estantes e armários que servem os corredores e os quartos e que remata os diferentes alinhamentos das fachadas; é um elemento estruturante de todo o espaço da habitação, que se prolonga desde a zona de chegada pelas escadas até à sala, revestindo e enquadrando as entradas para o lavabo de serviço e para a cozinha.

A reabilitação urbana tem vindo a recuperar e conseguindo devolver aos habitantes, grande parte do património que se encontrava degradado e devoluto desde os anos 80, época em que, em Portugal, se privilegiava a construção de raiz, muitas vezes e detrimento das construções existentes e da própria estrutura do tecido urbano.

Esta nova atitude, mais preocupada com os conjuntos urbanos existentes, enquanto território composto por muitos edifícios anónimos, muitas das vezes, individualmente, sem grande valor arquitetónico, mas que no conjunto mantêm o caráter das cidades, tem contribuindo para a sua dinamização e simultaneamente para a preservação da sua identidade; procurámos, com este projeto, participar nesse propósito.